A prática ainda sem regulamentação no montanhismo levanta debate sobre doping em expedições de alta altitude. 6c6x5f
Um grupo de ex-soldados das forças especiais britânicas concluiu nesta em 21/05 uma ascensão extremamente rápida ao Monte Everest, após realizar um treinamento incomum: inalar gás xenônio por duas semanas antes da expedição. A técnica, apesar de controversa, não é proibida no montanhismo e reacende discussões sobre limites éticos e regulatórios nas atividades de alta montanha.
O gás xenônio, utilizado comercialmente em lâmpadas e anestesias, estimula no corpo humano a produção de eritropoietina (EPO), hormônio responsável por aumentar a quantidade de glóbulos vermelhos no sangue e, consequentemente, melhorar a oxigenação e o desempenho físico. Em diversos esportes, o uso de EPO é considerado doping e está proibido por entidades reguladoras — mas no montanhismo, ainda não há normas específicas sobre o uso da substância.
Apesar das críticas vindas da comunidade alpina, os quatro montanhistas britânicos: o Major Garth Miller, o Coronel Alistair Carns, Anthony “Staz” Stazicker e Kevin Godlington utilizaram o gás como parte da preparação. O treinamento foi realizado ainda em Londres, nas duas semanas que antecederam a viagem ao Nepal.
Segundo o médico Michael Fries, que acompanhou a expedição, o xenônio pode simular as condições de altitude extrema, contribuindo para que o corpo se adapte mais rapidamente à escassez de oxigênio. “O xenônio parece ativar mecanismos que protegem contra o mal de altitude causado pela hipóxia. Ao inalá-lo, reproduzimos os efeitos da grande altitude”, explicou.
Tradicionalmente, alpinistas levam cerca de dois meses se aclimatando nas montanhas do Himalaia antes de tentar alcançar o cume, que está a 8.849 metros de altitude. O grupo britânico, no entanto, estipulou o objetivo de completar toda a viagem em apenas sete dias: partiu de Londres em 16 de maio e planeja retornar no próximo dia 23.
A expedição foi organizada pelo austríaco Lukas Furtenbach, conhecido por promover ascensões rápidas ao Everest. O custo estimado por participante foi de US$ 170 mil (cerca de R$ 964 mil), valor muito superior ao das expedições tradicionais que ficam em torno de US$ 55 mil (R$ 310 mil), mas condizente com a logística intensiva e o e necessário para o cronograma acelerado.
Além da façanha esportiva e do interesse científico, a missão também teve um caráter filantrópico. Os ex-militares pretendem arrecadar £1 milhão para organizações que apoiam ex-combatentes, incluindo £200 mil destinados a crianças de militares falecidos. A iniciativa também busca aumentar a conscientização sobre o bem-estar físico e mental de veteranos de guerra.